terça-feira, 1 de dezembro de 2009

No restaurante.

Não a vejo, apenas sinto o seu perfume se aproximar. Estou de costas para a porta.
Ela se aproxima calada mas com um sorriso leve, andar despreocupado e braços displicentes que só os adolescentes são capazes de ter. Ela não está sozinha, está com um homem muito mais velho. Ele é grande, muito grande, cabelos mesclados entre dourado e prateado, patas de urso. Os dois pegam a mesa à minha frente. Ele de costas, ela virada para mim.
Ela me olha pela primeira vez e na segunda percebe que está sendo observda.
Eles pedem pizza e ele a deixa escolher. Ela pede meia conco queijos meia à moda. A minha está para chegar.
Ele fala gesticulando muito, é rude, quase grosseiro. Ela questiona tudo o que ele diz de um jeito mais contido, não que seja tímida, mas por não querer ser descoberta. Percebo que as mãos dela são parecidas com as dele. Grandes, denotam inconstância.
À essa altura minha pizza já chegou. Eu como calado, observando-a. Então ela percebe com olhos de uma sutilieza denunciada que não uso nenhum tipo de anel e também que não estou esperando ninguém. Nesta noite não tenho história nem histórico. Apenas estou lá, sozinho, para comer, e agora para observá-la.
A pizza deles chega e ela só come a de queijo com volúpia que também gostaria de sentir enquanto como a minha. Ela me olha instigada enquanto bebe água, apenas água.
Ela tem gestos que não condizem com sua idade e opiniões com a mesma característica e por isso me deixa ainda mais fascinado. Percebo que a partir daí tudo o que ela diz é pra mim, agora ela conversa comigo.
Em intervalos constantes ela desenha astros com palito de dente no papel vegetal, é ambidestra.
De repente o assunto acaba e ela apenas come sua pizza olhando para o nada. Se esquece de mim, do mundo, do restaurante, de si mesma. Ouço seus brincos tilintando com o vento.
Eles retomam o assunto, conversam animadamente. Ele bebe demais e isso a deixa irritada, eu percebo.
Eles terminam e ela me olha. Ela vai embora e está me avisando. Uma piscada furtiva de despedida.
Pagam a conta, vão embora em silêncio. Sinto ela me olhando até perder de vista enquanto termino de comer minha pizza fria.


Aral

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