quarta-feira, 23 de julho de 2014

Caixa Postal


Tenho cartões postais da minha cidade, tenho ainda muito mais que a saudade tirou de mim.
 O que eu faço com estes postais sem endereço, que escrevi com a tinta de meu sangue?
 O que eu faço com o presente que comprei e agora não tem preço?
 O que faço dos meus dias livres que tirei pra você e desencaixou num quebra cabeças sem sentido algum?

Tenho, também, esse silencio que preenche toda a sala e o vão do que não foi. Aperto os cintos, fechos os olhos e sinto o mergulho interrompido por alguém que não ousou se esforçar tanto, pois pra você só era viável se fosse pra voar bem alto, longe do raso, perto das montanhas e até das nuvens se preciso for.


Você se arriscou, digo, eu...

Eu me arrisquei, foi vulneravel e contesto cada palavra e as escrevo por não caber mais nesse espaço preenchido de silencio. Minha cabeça, meu peito que já bate confuso sem muito fluxo e já frouxo de nunca alcançar.

De tanto bater, o coração uma hora ia apanhar também!


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Carta ao Amigo Palhaço


Meu caro amigo palhaço.

Sinto que o deixei de lado naquele domingo azul de maio, onde o céu era limpo e meus olhos, marejados de cinza, contemplaram a mais bela harmonia com lua em plena luz do dia. Meu sorriso farto estava fadado a reviver nostalgias num peito áspero, já gasto do aperto e da correria daqui. Mas não se preocupe, estou bem, tenho sido cuidadoso ao me aventurar nos olhos alheios, ao deliciar-me nas bocas, que me sorriem apenas por fora. Tenho devolvido discreto, os risos singelos que tencionam o ar, constrangidos de uma febre global de milhões de solitários que se esquivam dos nossos olhos. Tenho me repetido nos erros, isso não vai me ocorrer novamente. Mas sempre digo isso.

Mas estou feliz pelas manhãs, acordo logo cedo e já levanto sonhando e rotina mudando aos poucos até o meu jeito de andar.
Eu já não falo mais porrrrtão, mas posso abrir algumas portas pra você aqui, patife.
Além de portas, estou de olhos e ouvidos bem abertos, por sinal. Estou me dando alguma injeção, ou vírus e, já, me vejo diferente. Até as ruas, as pessoas, gestos, detalhes, estão maiores. Bem maiores. Parece que ganhei uma lupa de brinde e no começo estava em êxtase, completa alegria desmedida, por conta de dois olhos vivos, atentos.

 A curiosidade tem me feito sentir cheiros, e aqui, pentelho, a coisa fede, e como fede!
Toda magia da sensibilidade, também, me fez efeito. Agora eu enxergo muito melhor. No começo, comecei enxergando a ausência de postes em determinadas ruas daqui. Depois, gestos cotidianos ficaram cada vez maiores e mais desenhados com o tempo, e agora, a cereja do bolo, já começo a perceber os detalhes.
Vejo homens se fundindo ao cimento enrolados, de cobertas ao chão, enquanto homens parecidíssimos com estes mesmo homens do chão, pulam com tamanha destreza, estes empecilhos vivos, que nem tiram a cabeça da tela do smartphone pra seguir seu caminho.
Vejo outros homens empunhando respeito, seriedade e integridade, sentados em poltronas confortáveis na calcada e com os pés esticados, sendo lustrados por pequenos homens, ou homens sujos, ajoelhados ali. Esses homens de roupas caras, estão nos dizendo o quanto eles são independentes e poderosos, e eu me perguntando se ele alguma vez lavou a própria cueca ou lustrou o próprio sapato. Com tanta importância e autoridade, não há tempo de fazer a própria comida, isso não deve ser importante. Parece que com dinheiro as coisas ficam mais fáceis, ou mais estranhas.

Depois disso, meus olhos ficaram trêmulos e não gostei do que vi. Espero que esteja bem ai em seu ninho. Apareça por aqui e venha distribuir sorrisos em meu peito tão batido de cinza.
Mande-me noticias. Espero ansioso sua visita, também.
De seu Amigo e Parceiro,

                                                                                                                        Celso Junior

terça-feira, 24 de junho de 2014

Ver-a-cidade

Eram milhares de passos caminhando solitários na Avenida Paulista.

O desejo de se encontrar é facilmente perdido em meio ao caos e, mais uma vez debatendo o mesmo assunto!

Não há nada novo, os dias são iguais e a saudade continua. 

Escrevo sobre as pessoas, escravocratas do hábito, do luxo, da riqueza, mas da aspereza também.

Os dias são cinzas e pela manhã o frio que desce pela espinha, congela até os ossos. Gente, multidões e eu sozinho olhando pra frente em linha, seguindo o fluxo de mais um dia, igual a todos os outros dias da semana. Iguais, também, a todos que seguem em filas involuntárias dividindo o espaço apertado com outros seres. Humanos, máquinas também...

Por ser escravo de mim mesmo, do corpo que possuo, visto-me depressa, numa pressa inconsequente de fazer o dia render bem mais do que é me dado, pois se não houver lucro não há sentido nessa cidade, necessidade de partir na frente e chegar logo a lugar nenhum. Trânsito, pressa. Gente por cima de gente, todo dia a mesma coisa. Esse é o assunto mais comentado daqui, nossa cultura de estarmos distantes uns dos outros em espaços absurdamente apertados. Não há privacidade, mas há privação em todos os sentidos. 

Sentido mesmo é o que busco encontrar quando acordo e já logo vou saindo, tomando meu café as pressas, no qual pago caro por cada minuto, e é preciso correr mais ainda pra me sobrar, além do tempo, algum dinheiro pra pagar pelo tempo livre. 

Sentido aqui só existem dois,o da sua mão e o da outra. Vemos e vivemos nas vias uma angustiante tortura. Tudo se repete nessa cidade, até mesmo o meu discurso. 

É mais um dia e eu aqui, novamente...
 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cartas pra Julho


Junho, 09 de 2014.


Minha querida cidade, estarei de volta por aí pra passar um tempo e aproveitar as pequenas férias que o mundo me deu. Aqui sempre chove, mas de um tempo pra cá a capital secou e o que vi foram bares cheios de vidas vazias, de promessas engasgadas, de um silencio febril. Sigo por fora contente, mas por dentro fico angustiado com a falta daquilo que nunca tive.

Meu desejo segue desesperado pela incompletude de alimentar a esperança com migalhas soltas nas ruas e de pedir emprestado um sorriso sorriso sincero de alguém. Eu tenho que mudar os meus defeitos e enfrentar os desafios com o peito aberto e a chama da alegria acesa e viver alem de suprir minhas necessidades físicas e psicológicas.

Espero te enxergar com sinceridade nos olhos e aproveitar o presente para nos encontrar em nós mesmos. Mas é claro que irei te abraçar até preencher o vazio de todo aquele frio na espinha, que aumentava a cada novo dia que eu passava sem nunca ter tido.

De seu presente,



                                                                                                                                           Até  Julho

                                                           

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Revivendo




Depois de anos, algo chamou-lhe a atenção novamente.
Uma poesia feita com mistérios e reativada na memória do que poderia ter acontecido caso encontrasse aquela, por quem havia dedicado o seu olhar, a imaginação e todo o vazio de seus dias. Pois existem vazios que a comida não consegue chegar, satisfazer ou alimentar.

Ele desejou amar de novo, mas por opção, digo, ele escolheu isso, mas não poderia simplesmente escolher a quem amar, essas coisas não se escolhe.

Um dia, porém, desses meio cinzas, São Paulo lhe apresentou uma autonomia discreta, para desfrutar de uma certa dose de liberdade. Dizia ele que percorrera as ruas dedicando-se ao amor. Disse, também, que uma breve história não seria o suficiente para botar pra fora, todo aquele amor reprimido, aquele riso contido, como já dizia Chico. Neste dia, avistou dois olhos sentados no assento do metrô. Eram vivos, diferentes dos olhares perdidos dessa cidade. Seu coração palpitou, uma descarga de adrenalina percorreu seu corpo inteiro, mas o desejo não veio. Aquilo não era amor, pois não poderia ele, se apaixonar simplesmente por um olhar trocado e as vidas cruzadas na linha azul, sentido centro e Tietê.

Aqueles olhos chamaram sua atenção pois era um olhar familiar, de alguém que só vira por fotos ou pela rede, algo bastante comum atualmente. Se foram os cheiros, os sons e os risos, mas o olhar que ficou capturado pela lente das cameras, lhe falava de alguém que foi inventado atraves da idealização da ausencia presente. Por isso mesmo, neste dia, no metro, não foi por uma desconhecida que ele se apaixonou, foram pelos olhos daquela desconhecida que agora tomava a forma de lembrança de um corpo jamais visto pelas mãos. Jamais tocado pelo perfume da flor que inventara para dar-lhe formas as suas verdades.

Neste dia enxergou olhos. Noutro dia encontrou um sorriso, que suspeitava ser o da garota das fotos, numa moça chupando sorvete de morango no parque Trianon. Pediu aquele sorriso emprestado e uniu aos olhos vistos no trem e começou a procurar por ela em pedaços pela cidade.

Quantos pedaços seriam precisos pra costurar seu coração?


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Enquanto as Ondas Baterem na Areia, o meu Coração não vai Parar!

Descobrir o segredo dos heróis desde a infância, é o melhor caminho para se tornar o mais forte dos Homens e o maior Protetor das pessoas frágeis e sensíveis do planeta Terra.

O filho da Mãe Terra ganha força nas águas do mar, e destrói, com toda a sua força, qualquer tristeza que possa ter ficado reminiscente dos anos passados, virados nas garrafas de espumantes doces e gelados em meio ao calor humano do mar de gente à meia noite!

Aventureiro nato, nascido de uma guerreira resistente ao fogo, o grande herói terrestre era armado com a arma mais poderosa que se podia ter em mãos... Ele trazia consigo um universo vasto, nítido. "Pluriversos", escrito na areia pelas ondas de um Mar de alegria!

Esses heróis não lutam de verdade, mas te protegem sempre que possível!
Esses heróis não serão derrotados nunca, a não ser que você pare de sorrir também!
Esse herói que não usa fantasia, por ter varias na cabeça, as vezes se cansa...
E mesmo cansado, as vezes resiste e faz de tudo pra se manter em pé diante de um sorvete...

E voltam carregados de alegria, de universos e historias. Voltam pra casa pelo aprendizado, não dele, mas o nosso...

As vezes precisamos carregar nossos heróis, pois eles tem apenas 5 anos!




quinta-feira, 29 de novembro de 2012

#8

Acordei.
Abri os olhos e procurei o espelho.
Me refleti.
Minha imagem estava lá, nítida.
E assim eu me vi a primeira vez!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Que caia o mundo, que caia todo o pranto de todas as nuvens que insistem em molhar e alimentar a terra. O mesmo pranto que cai retorna, em alegria, os vapores com os primeiros raios do sol!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Vermelho... (cheiro)

A liberdade percorria por entre as casas de madeira, ruas vermelhas e plantações e a bicicleta acelerava com meus pés a toda força os pedais emprestados, trocados em pecado e segredo.

O vento e a calmaria alternavam nas ruas dilacerando, dependendo da velocidade que eu, criança, atingia, os céus e os mares vistos de baixo. Tudo era azul, mas em movimento, as cores se dissipavam e misturavam  com cheiros formando todas as sensações em um único sentido, ou misturados.

O cheiro vermelho da terra encharcada era de um barulho imenso que bloqueava até, mesmo, a luz do sol!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ainda Morro sem Saber!

A gente não foi feito pra nada, então pra que ser alguma coisa?
Se o objetivo do ser humano ser criado foi por algum motivo espiritual, então porque estamos nos matando?
Agora se o homem nasceu somente por algum acaso do destino, ou do próprio acaso, então porque estamos nos matando?
Se nós já vamos morrer de todo jeito, por cansaço ou velhice, então porque estamos nos matando?

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Castanhos, azuis, puxados, felizes, deprimidos e raivosos. Alguns eram olhares desconfiados e mesmo assim me perdi em todos eles na busca de encontrar a si mesmo.

Hoje eu vi um sorriso...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Me entreguei aos prazeres do mundo e a chuva lavou o meu pranto. Por dentro um coração 

despedaçado agora limpo. Limpo e despedaçado!

A terra é o gelo do fogo, e o fogo é a alma do negócio!

Então! Que o fogo se torne tão sutil como água e a água tão etérea quanto o fogo!

domingo, 16 de setembro de 2012

E o menino, que se diz já crescido, se viu preso na angustia de não ser o que sente. É deserto em mim...

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A Cor Ria do Correr

Corria.
Enquanto corria, ainda observava o ambiente, as ruas e os carros.

Era uma menina que tinha sede de correr atrás da vertigem. Corria, por entre os carros, as ruas e avenidas.
A calçada já não era suficiente. Corria observando o caos que se instalava a cada minuto que passava.

Corria, corria e corria. Corria no corredor do tempo, entre os semáforos de uma esquina e outra. E aumentava a velocidade a cada passo. A vertigem passava e corroía. Corrida por dentro, a velocidade a fez deixar os olhos em segundo plano e aumentar, também, o passo.

Corria, corroida, pelo tempo. Por dentro.
A cada esquina era obrigada a esquivar-se da falta de tempo.
Não havia um minuto sequer sem parar de correr. A corrida fadigada e constante, mantinha o ritmo e acelerava a cada vez que controlava a resPiração.

Corria, corria. E corria tão rapido, que por alguns segundos elevou-se os seus pés do chão e esteve iluminada pela chama que nos consome.

Corria, e de tanto correr, o vento que aumentava junto com os passos, apagou o fogo e o resto do foco ao redor de seus olhos.
Corria de frente, em linha reta, quase sem respirar. Respirava por que era obrigatorio e culpava-se por cada segundo perdido, cedido a respiração.

Chegou a metade ainda inteira, mas visivelmente cansada. Correu tanto, que de tanto correr, corria das cores que riam pra ela.

Estava velha quando se aproximou do final da avenida e viu seu cansaço chegando primeiro que ela.
Estava cansada e velha quando viu a esquina dobra-la ao meio.

Estava fria, perdida no sem-rumo do fim...




Eu fiz até um samba com seu nome mesmo sem saber onde você mora!

Eu tinha tudo pra falar, mas resolvi cantando. E agora com as letras tiradas nos dedos, eu lhe falo tudo  o que eu devia sonhar.

"A menina quando foi ser resgatada, dava pena da coitada, preferiu não se arriscar.
O garoto, já crescido e muito esperto, dando-se conta do xaveco, conseguiu te conquistar."

Viver era uma questão de anos. Anos de idade a frente no pensamento e na conclusão sobre os fatos da vida! 
Ela sabia disso, mesmo sendo nova demais pra vida. Ele também, mas tinha consciência de sua incompletude e isso o acalmava.

Acalmava-o, por excesso de segurança em achar que tudo vai ficar bem no final, mesmo se não der. Isso o fazia querer arriscar, a vontade de se lançar ao risco sentindo o medo bater na cara era de um mistério vigoroso. A capacidade de buscar a calma em um momento sedutoramente eletrizante, nos dá a capacidade de experimentar, em camera lenta, todos aqueles momentos que passam em frações de segundo e mal percebemos.

Hoje eu cantei um samba e desaguei cantando o que não devia.
Hoje, vou botar pra fora o inevitavel confronto com o fracasso e dizer a ele o quanto é bom o dia
Bom Dia!
Mesmo sendo mais que boa noite meus dedos não enxergam as horas.
 



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sobre Cercas e Muros

Pulava placas, muros e portões. Não havia obstaculo que o parasse. Desde muito jovem aprendeu a arte de se esquivar do mundo. Qualquer contato que pudesse interferir em seu caminho, pulava-o, ou dava um jeito de se esquivar.

Começou a correr aos 10 anos. Na corrida sacudiu poeira da estrada e partiu rumo a lugar nenhum.

O mais difícil de se perder no próprio caminho é não saber como lidar consigo diante da aridez do mundo. Percorria milhas e milhas, mas a sensação que obtivera era de que o caminho não havia mudado. A sensação de correr, correr e não sair do lugar era plena. Absoluta.




terça-feira, 4 de setembro de 2012