quinta-feira, 5 de junho de 2014

Revivendo




Depois de anos, algo chamou-lhe a atenção novamente.
Uma poesia feita com mistérios e reativada na memória do que poderia ter acontecido caso encontrasse aquela, por quem havia dedicado o seu olhar, a imaginação e todo o vazio de seus dias. Pois existem vazios que a comida não consegue chegar, satisfazer ou alimentar.

Ele desejou amar de novo, mas por opção, digo, ele escolheu isso, mas não poderia simplesmente escolher a quem amar, essas coisas não se escolhe.

Um dia, porém, desses meio cinzas, São Paulo lhe apresentou uma autonomia discreta, para desfrutar de uma certa dose de liberdade. Dizia ele que percorrera as ruas dedicando-se ao amor. Disse, também, que uma breve história não seria o suficiente para botar pra fora, todo aquele amor reprimido, aquele riso contido, como já dizia Chico. Neste dia, avistou dois olhos sentados no assento do metrô. Eram vivos, diferentes dos olhares perdidos dessa cidade. Seu coração palpitou, uma descarga de adrenalina percorreu seu corpo inteiro, mas o desejo não veio. Aquilo não era amor, pois não poderia ele, se apaixonar simplesmente por um olhar trocado e as vidas cruzadas na linha azul, sentido centro e Tietê.

Aqueles olhos chamaram sua atenção pois era um olhar familiar, de alguém que só vira por fotos ou pela rede, algo bastante comum atualmente. Se foram os cheiros, os sons e os risos, mas o olhar que ficou capturado pela lente das cameras, lhe falava de alguém que foi inventado atraves da idealização da ausencia presente. Por isso mesmo, neste dia, no metro, não foi por uma desconhecida que ele se apaixonou, foram pelos olhos daquela desconhecida que agora tomava a forma de lembrança de um corpo jamais visto pelas mãos. Jamais tocado pelo perfume da flor que inventara para dar-lhe formas as suas verdades.

Neste dia enxergou olhos. Noutro dia encontrou um sorriso, que suspeitava ser o da garota das fotos, numa moça chupando sorvete de morango no parque Trianon. Pediu aquele sorriso emprestado e uniu aos olhos vistos no trem e começou a procurar por ela em pedaços pela cidade.

Quantos pedaços seriam precisos pra costurar seu coração?


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